Fonte fotografia: Carris
Os primeiros elevadores1 e ascensores1 foram criados nos finais do século XIX e concebidos para vencerem os desníveis da cidade e para facilitar a circulação de pessoas e bens.
Recentemente a CML, nas zonas históricas da cidade que coincidem com um terreno mais acidentado, promovendo não só a mobilidade pedonal dos moradores mas também a qualidade da vivência da própria cidade para residentes e visitantes, recuperou prédios antigos e neles alojou elevadores comuns transformando os próprios prédios em plataformas de acesso a cotas mais elevadas no terreno.
Pode-se, por isso, dividir a implementação dos elevadores em duas épocas distintas ou em "duas gerações".
Pode-se, por isso, dividir a implementação dos elevadores em duas épocas distintas ou em "duas gerações".
Em 2002 os três ascensores da Bica, Lavra e Glória e o elevador de Santa Justa foram classificados como
Monumento Nacional.
Primeira Geração * - Ascensores e Elevadores no ativo
Ascensores do Lavra, Bica e Glória
Estes
três ascensores foram criados pelo mesmo autor, o engenheiro Raoul Mesnier de
Ponsard (1849-1914) de origem francesa mas nascido na cidade do Porto e, têm
igualmente em comum a aplicação da mesma tecnologia na sua origem e na sua
evolução.
Estes
ascensores com características de funiculares2 foram acompanhando a
evolução tecnológica aplicada à construção ferroviária.
Funcionando com dois carros que sobem e descem alternada e simultaneamente ao longo de duas vias paralelas de carris com uma fenda central que alberga o cabo subterrâneo encastrado na calçada e que os une. Cada carro dispõe de duas cabines de condução que, alternadamente, são utilizadas consoante o sentido da viagem.
Inicialmente
o sistema de locomoção dos carros fazia-se utilizando cremalheiras laterais
encastradas na calçada, designado
por "systema Riggenbach-Mesnier" 3. Como
força motriz do cabo que ligava os dois carros era utilizado um processo de
contrapesos de água (um reservatórios com água no tejadilho). Estes depósitos
eram esvaziados quando chegavam ao ponto mais baixo e enchidos no ponto mais
alto.
Este
sistema de força motriz veio a revelar-se pouco eficaz em virtude de depender
do abastecimento de água da cidade que não tinha a regularidade desejada forçando, por vezes, a interrupção do seu funcionamento. De uma forma gradual este foi substituído, nos três elevadores, pela aplicação de um sistema de máquinas a
vapor.
Ascensor: Lavra 1909 - Bica 1909 - Glória 1885 - Fonte fotografia: * |
Em 1915 inicia-se a eletrificação dos três ascensores com energia fornecida pela Central Elétrica de Santos. Esta mudança traduz-se no desaparecimento do
sistema de cremalheira e na instalação de pantógrafos4 no tejadilho para
possibilitar a transmissão da corrente aos motores. Cada carro passa a dispor de um
motor mas, no entanto, permanecem ligados "em série" pelo que, só com a manobra
conjunta dos dois guarda freios ascensoristas se conseguem pôr ambos os carros em andamento. No entanto, por questões de segurança, basta a intervenção de um para que ambos se imobilizem.
Data
da década de trinta a uniformização da cor amarela das carroçarias que até hoje
prevalecem como imagem de marca da companhia Carris, já então sua proprietária.
Elevador de Santa Justa ou do Carmo
Este elevador é igualmente obra do engenheiro Raoul Mesnier (e não do engenheiro a Gustave Eiffel, que viveu em Portugal entre 1875 e 1877 e que nos deixou com a sua assinatura, entre outras obras, o Mercado de Olhão e várias pontes, nomeadamente a Ponte D. Maria Pia no Porto, a Ponte dupla de Viana do Castelo, a Ponte de Barcelos, do Pinhão e de Fão).
É uma das principais e poucas obras da “Arquitetura do Ferro” em Lisboa e tecnicamente muito diferente dos seus contemporâneos ascensores, desde logo porque se trata de um elevador vertical e, sobretudo, porque logo desde o início se utilizaram motores a vapor.
Fonte fotografia: lisboahojeeontem.blogspot.pt |
Fonte fotografia: commons.wikimedia.org |
Em 1926 os três ascensores e o elevador de Santa Justa, passaram a ser propriedade da Companhia de Carris de Ferro de Lisboa (CCFL) após a dissolução da Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa, fundada em 1882 por Raul Mesnier e que detinha “a concessão autorizada a estabelecer e a explorar planos inclinados no interior da cidade para o transporte de passageiros e mercadorias”.
Primeira Geração - Ascensores e Elevadores extintos
Ascensores da Estrela, da Graça e de S. Sebastião
Estes três ascensores extintos tiveram vários pontos comuns: foram todos projetados por Raoul Mesnier de Ponsard; utilizavam o sistema de “cable-car”; cobriam distâncias longas e, os seus percursos, foram em parte reutilizados pelos carros elétricos.
Ascensor da Estrela – Inaugurado em 1893 e desativado em 1913
Circulava entre o Largo da Estrela e o Largo de Camões e cobria a distância de 1700 metros que exigia a presença de sinaleiros em vários pontos do percurso.
Causou graves problemas e, por essa razão, foi apelidado de "Mata Cães" ou "Maximbonbo da Estrela”.
Foi substituído em 1915 pelo carro elétrico.
Fonte fotografia: * |
Ascensor da Graça – Inaugurado em 1893 e desativado em 1909
Ligava o Largo da Graça à Rua da Palma e cobria a distância de 730 para um desnível de 75 metros.
O seu trajeto foi substituído parcialmente em 1915 pelo carro elétrico.
Fonte fotografia: * |
Ascensor de S. Sebastião – Inaugurado em 1899 e desativado em 1901
Ligava o Largo de São Domingos, ao lado do Teatro D. Maria II ao Largo de São Sebastião da Pedreira numa extensão de 2900 metros.
Tinha a sua estação inicial ao lado do Teatro D. Maria II, percorria a R. de S. José, passava pelo Largo Andaluz e tinha a estação terminal no Largo de São Sebastião da Pedreira
Facilitava o acesso dos visitantes ao Jardim Zoológico então localizado na Palhavã que, na altura, era considerada arrabaldes da cidade.
Caricatura alusiva ao fim do ascensor de São Sebastião |
Projeto atribuído a Raoul Mesnier.
Inaugurado em 1892 funcionou como elevador público até 1912 tendo passado a privado quando foi incorporado nos extintos Armazéns do Chiado.
Elevador vertical trabalhava por contrapeso de água com uma cabine com capacidade para 48 pessoas, dispunha de um ascensorista a bordo.
Fazia a ligação entre a Rua do Crucifixo e a Rua Garrett no Chiado.
A sua entrada fazia-se pela Rua do Crucifixo, n.º 113 e a saída era feita atravessando o interior do Hotel Universal, então existente na Rua Garrett, no Chiado.
Antigo Hotel Universal depois antigos Armazéns do Chiado |
Elevador de São Julião ou do Município
Da autoria de Raoul Mesnier.
Inaugurado em 1897 foi encerrado em 1915 tendo sido substituído na sua função por um carro elétrico.
Elevador vertical trabalhava por contrapeso de água com duas cabines com capacidade para 25 pessoas, dispunha de um ascensorista a bordo.
Fazia a ligação entre Largo de São Julião ao Largo da Biblioteca Pública (atual Largo da Academia Nacional de Belas-Artes).
A sua estrutura tinha uma altura máxima de 40 metros e servia um desnível de 30 metros. Era constituído por duas torres que albergavam uma cabine cada uma.
Este elevador ficou ligado à intentona de 28 de Janeiro de 1908 que ficou conhecida como "Golpe do Elevador da Biblioteca" em que conspiraram carbonários, republicanos e dissidentes progressistas. Foram presos António José de Almeida, Afonso Costa, Álvaro Poppe e outros suspeitos, num total de noventa e três conspiradores.
Na sequência desta intentona ou, como consequência das prisões subsequentes reflexo do endurecimento de posições, dias depois, a 2 de Fevereiro de 1908, dá-se o regicídio que vitimou o rei D. Carlos I e o Príncipe Real Luis Filipe gerando uma grave crise política que levou à implantação de República.
Fonte fotografia: * |
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
* Fonte histórica e fotográfica: João Manuel Hipólito Firmino da Costa In A Tomada de Lisboa pelos Ascensores (Tese de Mestrado)
1 Embora o significado de ascensores e elevadores ser o
mesmo respeitou-se a terminologia associada aos seus nomes e que os distingue pelo facto dos elevadores servirem para elevarem na vertical e os ascensores
para elevarem em planos inclinados mas não verticais.
2 Sistema de transporte em que o veículo se move num plano inclinado por meio
de cabos de aço postos em ação por um motor imóvel, permitindo ultrapassar
grandes diferenças de nível (dicionário Porto Editora). Deriva do latim
funicŭlu – corda pequena.
3 Baseado no sistema de cremalheiras Riggenbach, inventado por
Niklaus Riggenbach e difundido a partir da Suíça.
4 Dispositivo montado no topo da carroceria com a função de
recolher energia de um cabo elétrico.
Rota proposta pela Carris |
Rota proposta pela Carris |
Em 2010 a Carris lançou o projeto "Arte em Movimento - Carris" (retomado em anos seguintes) que teve a participação dos artistas plásticos Alexandre Farto, Susana Anágua, Vasco Araújo e Susana Mendes Silva que fizeram uma intervenção plástica nos ascensores/elevadores com o objetivo de "estabelecer uma ponte entre um passado de histórias e vivências com o presente e o futuro".
Arte em Movimento -2010 |
Fonte fotografia: ocorvo.pt |
Quer obedecendo a projetos artísticos de iniciativa da Câmara ou da Carris, quer por razões comerciais, no passado, ou aderindo a campanhas de carácter social ou simplesmente por mera vontade individual de expressão artística, os elevadores têm sido "alvo" de modificações estéticas do seu "amarelo da Carris".
Este facto, testemunha a sua importância para a "vida" da cidade de Lisboa e, lisboetas e turista, na generalidade, reservam-lhes uma especial estima que vai muito além da sua simples utilidade pública.
Ascensor da Glória |
Ascensor do Lavra |
Ascensor da Bica |
Segunda Geração
Recriar a tradição - Recuperar espaços urbanos
Elevadores em estruturas reabilitadas promovidos pela CML
A Câmara Municipal de Lisboa aproveitando o interior de edifícios degradados, recuperando-os, criou recentemente no seu interior elevadores públicos e gratuitos que facilitam o acesso pedonal ao Castelo de São Jorge e ao Miradouro de Santa Luzia.
Elevador Baixa-Castelo
Inaugurado em 2013, com projeto do Arquiteto Falcão de Campos, une a R. dos Fanqueiros à R. da Madalena, utilizando dois edifícios degradados, um em cada rua.
Tem três elevadores convencionais, gratuitos, a funcionarem conforme a afluência de utilizadores.
Fonte fotografia: CML |
Elevador de Santa Luzia
Inaugurado em 2015, com projeto de Frederico Valsassina e Mónica Mendes Coutinho, liga a R. Norberto Araujo ao Miradouro de Santa Luzia, utilizando o interior de um prédio degradado.
Funciona conforme a afluência de utilizadores e é gratuito.
As escadas rolantes do Martim Moniz ao Castelo de São Jorge (Em projeto / construção)
Vão ligar a praça do Martim Moniz ao Castelo de São Jorge e deverão
estar em funcionamento no final de 2016/início de 2017 .
Em causa estão três troços: as "Escadinhas da
Saúde", que ligarão a porta da Mouraria à Rua Marquês Ponte de Lima, as
"Escadinhas do Palácio da Rosa", que farão a ligação entre as ruas
Marquês de Ponte de Lima e Costa do Castelo e ainda as "Escadinhas de São
Lourenço", para as quais serão recuperadas as escadas já existentes entre
a Rua da Costa do Castelo ao interior do Castelo de São Jorge.
O primeiro e o terceiro troços, a cargo da EMEL, deverão
entrar em funcionamento no final de 2016/início de 2017 e a sua utilização será
gratuita.
Funicular que vai unir a Graça à
Mouraria (em projeto / construção)
O projeto do Atelier Bugio e o
Arquiteto João Favila Menezes em entrevista ao Jornal Publico descreve o
projeto:
“A entrada no funicular vai
fazer-se na Rua dos Lagares, num edifício “gare” construído de raiz para o
efeito. Depois, como se descreve na memória descritiva do projeto (desenvolvido
com o Atelier Pedro Domingos Arquitetos e o com o arquiteto João Simões), o
veículo subirá a encosta, parando apenas no “fim da Calçada da Graça.
A primeira parte do trajeto é
colada à cerca e percorre o novo Jardim da Cerca da Graça, inaugurado há cerca
de um ano, em contínua subida de cota.
Depois o funicular entra num
pequeno túnel em curva que atravessa o miradouro ao encontro da cota de ligação
com a Calçada da Graça, onde aparece na rua virando as ‘costas’ ao muro de
contenção do miradouro, abrindo-se para o Jardim Augusto Gil e ao rio que se
descobre no horizonte da Calçada da Graça.
No miradouro nunca se vai ver o
funicular. A vista fica totalmente preservada.
A concretização deste projeto vai
também permitir unir (através de uma alteração da circulação viária no local) o
Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen e o Jardim Augusto Gil, que hoje está
deslocado e rodeado de carros”.
Maquete e desenho do funicular - Fonte fotografia : Atelier Bugio |
Elevador do Campo das Cebolas à Sé (em projeto / construção)
O projeto do Atelier Bugio e o Arquiteto João Favila Menezes em
entrevista ao Jornal Publico descreve o projeto:
A estrutura através da qual se fará o acesso ao novo elevador. “É uma
espécie de plinto muito reduzido. Uma peça circunscrita ao elevador” e, será em
pedra lioz.
"É uma peça relativamente pequena, deslocada, recuada
relativamente à fachada da Sé”, continua, sublinhando que a inserção do
elevador junto ao monumento nacional “foi um aspeto bastante ensaiado”.
O projecto que visa “facilitar a mobilidade” entre o Campo das Cebolas
e a Sé de Lisboa, através da instalação de um elevador, foi objeto de uma
apresentação aos moradores e os trabalhos com vista à sua construção deverão
começar já no próximo mês. O arquiteto João Favila Menezes sublinha o cuidado
que houve para não introduzir um elemento “perturbador” junto àquele monumento nacional.
João Favila Menezes detalha que este elevador, que terá capacidade
para transportar 13 pessoas de cada vez, vai partir do topo das Escadinhas das
Portas do Mar, às quais se chega atravessando o arco com o mesmo nome que parte
da Rua dos Bacalhoeiros. “O elevador vai dar continuidade às escadinhas”,
explica, lembrando que atualmente elas “não têm continuidade”, esbarrando quem
sobe os seus degraus num muro intransponível.
Fotomontagem com
uma das saídas do elevador - Fonte fotografia: Jornal Público
|
Elevadores Não oficiais
Armazéns do Chiado
No interior do Armazéns do Chiado e desempenhando as mesmas funções do extinto Elevador do Chiado ou da Rua do Crucifixo, existe um elevador que faz a ligação entre o piso de entrada e a Rua do Crucifixo.
Polux
Desempenhando as mesmas funções do elevador Baixa-Castelo o elevador da loja Polux permite a ligação entre a Rua dos Fanqueiros e a Rua da Madalena.
No interior do Armazéns do Chiado e desempenhando as mesmas funções do extinto Elevador do Chiado ou da Rua do Crucifixo, existe um elevador que faz a ligação entre o piso de entrada e a Rua do Crucifixo.
Polux
Desempenhando as mesmas funções do elevador Baixa-Castelo o elevador da loja Polux permite a ligação entre a Rua dos Fanqueiros e a Rua da Madalena.
Elevador de Baixa-Castelo | Elevador do Mercado do Chão de Loureiro | Elevador de Stª Luzia | Ascensor do Lavra | Ascensorda Glória | Elevador de Stª Justa | Ascensorda Bica | Elevador da Sé | Funicular da Graça |
Escadas rolantes Do Castelo | Elevador da Polux (dentro da loja) | Armazéns do Chiado (dentro do c.c) | Ascensor da Estrela | Ascensor da Graça | Ascensor de S. Sebastião | Elevador do Chiado / Rua do Crucifixo | Elevador de São Julião ou do Município |
Sem comentários :
Enviar um comentário
A sua opinião é importante